Na realidade tecnológica em que vivemos atualmente, a imagem tornou-se o foco da informação. Há algum tempo, cinema e televisão abriram caminho para a cultura visual de massa. Hoje, com as redes sociais, a necessidade de informação rápida e eficaz coloca a imagem em primeiro plano, ficando a linguagem escrita responsável pelas informações adicionais, ou seja, a legenda. Os aplicativos de comunicação textual em celulares, por exemplo, estão aprimorando cada vez mais seus recursos visuais, como os emojis (ícones representando emoções), as figurinhas (adesivos virtuais) e os memes.
A utilização da linguagem visual como forma de comunicação de ideias sempre se deu, na verdade desde a idade da pedra (mesmo que não intencionalmente). Basta analisarmos um pouco da arte sacra e veremos que as mais importantes passagens bíblicas são contadas através de imagens. Os afrescos de Michelangelo no teto da Capela Sistina e de Leonardo representando a Santa Ceia são exemplos bem conhecidos. Outro exemplo que temos aqui no Brasil são as pinturas de Claudio Pastro no Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida do Norte – SP. A propaganda sempre se valeu das imagens em detrimento da informação escrita, mesmo quando esta se dá pelo rádio. O texto falado induz o ouvinte a “ver” mentalmente as imagens, ativando percepções e forças psicológicas da mesma forma como acontece na visualização de imagens físicas.
A alfabetização visual torna-se urgente à medida que o ato de ver torna-se banal. As redes sociais e a velocidade da informação, mais do que nunca, estão transformando a contemplação em atividade tediosa. Somos bombardeados com imagens o tempo todo, diversas por segundo, e os próprios meios de comunicação não nos dão mais tempo para a contemplação: vemos superficialmente e captamos mensagens por indução, sem estabelecer relacionamentos e significados reais. E se não vemos apropriadamente, não compreendemos. Se não compreendemos, não relacionamos, ordenamos, configuramos ou significamos. Assim, o homem vai perdendo sua capacidade de criar.
Longe da pretensão de “criar artistas”, o ensino da linguagem visual nas escolas tem o real objetivo de educar a sensibilidade dos alunos.
Ao educar a sensibilidade do aluno, estamos apurando sua percepção de mundo, o que permite uma seleção e ordenação dos estímulos recebidos. Assim como a sensibilidade faz parte da constituição humana, ou seja, não é um dom e não se manifesta somente nos artistas, mas pertence à todos os seres humanos, a criatividade também é inata.
A alfabetização visual torna os códigos visuais acessíveis a todos, artistas ou não, da mesma forma que os códigos matemáticos e verbais são ensinados a todos.
Por estes e muitos outros motivos, acredito que esteja mais do que na hora de revermos o ensino das artes nas escolas brasileiras.



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