Visualização criativa

Sabe aquele assunto que você já deu mil vezes em sala de aula e já não tem mais o que inventar? Pois aqui estou eu para dar uma ideia que pode salvar suas aulas: a visualização criativa! 

Certa vez, em um dos meus estágios, tive que dar uma aula sobre Maneirismo e Barroco para o 7º ano. Então pensei: "como ser criativa com um assunto tão quadradinho?"

Sempre fui fã de contar histórias simbólicas para puxar um assunto ou conceito sério (fruto da minha formação em psicomotricidade e das minhas aulas de arte para crianças pequenas) e resolvi pesquisar alguma coisa que me ajudasse nesse sentido em livros de história da arte. Barroco traz à mente suspense, sombra, dramatização, expressão de emoções. 

Eis que encontro, no fabuloso livro A História da Arte, do Gombrich (se você não tem, vale a pena investir em um), uma leitura dramaticamente barroca da obra O reencontro do corpo de São Marcos, de Tintoretto. 

E foi assim que comecei minha aula: penumbra, sem slides e uma história de suspense. Pedi aos alunos que tentassem visualizar a cena que eu iria descrever. Depois da história, alguns alunos se arriscaram a descrever o cenário que haviam imaginado e então eu mostrei a obra na projeção, começando a falar sobre o assunto da aula. 

Histórias ou leituras criativas de obras de arte são ótimas para estimular a imaginação e a visualização criativa. Use e abuse delas. E vai por mim... isso não funciona só com crianças pequenas. Adolescentes e adultos também gostam. Basta que se escolha a história apropriada para cada idade. 

E para finalizar (e matar a sua curiosidade), aqui vai a leitura da obra O reencontro do corpo de São Marcos pelo autor E. H. Gombrich (com algumas adaptações).

"À primeira vista, encontramos uma cena agitada e confusa. Nossos olhos mergulham na profundidade de uma estranha cripta.

Há um homem de estatura alta no canto, erguendo o braço como se quisesse parar alguma coisa que estava acontecendo. Se acompanharmos seu gesto, podemos ver que ele aponta para algo que acontece do outro lado, bem no alto: dois homens estão prestes a descer um cadáver de um túmulo, enquanto um homem de turbante os ajuda embaixo. Ao fundo, dois homens, um deles segurando uma tocha, tentam ler as inscrições em outro túmulo. Serão estes homens saqueadores de tumbas?

Há um corpo estendido sobre um tapete no chão. Ao seu lado, um ancião de roupas suntuosas ajoelha-se em atitude de adoração. Na cena, há homens e mulheres que gesticulam, olhando atônitos para o homem no canto. Será este homem um santo? Olhamos atentamente e percebemos que ele possui um halo e carrega um livro. Este homem é São Marcos Evangelista. O que será que está acontecendo?

O santo manda os homens suspenderem a busca nas sepulturas. Ali está seu corpo: jaz a seus pés, banhado de luz, e sua presença opera milagres. O homem que se contorce à direita livrou-se de um demônio que o possuía e que podemos ver saindo pela sua boca, como uma espiral de fumaça."

Fonte: GOMBRICH, E. H. (2012), A História da Arte, p. 368

Por Vanessa Doria